23 September 2003

holy junkie


Acordou, mais uma vez suando. Não fazia a menor idéia de onde estava. Olhou para o lado, deitada junto dele estava uma menina que ele não lembrava. Era feia, ou estava feia ali, de boca aberta e maquiagem borrada, completamente nua mas ainda de escarpin, envernizado e imundo. Ela fedia. Ele fedia.

Coçava-se, e sentiu seu pau ainda molhado. Era sangue, aquela aluna estava mesmo menstruada. Esticou os braços pra trás, um copo caiu, não quebrou. Olhou e viu que tinha caído em cima de um saquinho de pó que estava estourado na ponta, mas ainda estava cheio. Deve ter dormido antes desse.

O quarto estava limpo. Fora as roupas e os copos e os corpos, tudo era edredons brancos e revistas devidamente empilhadas. A Tv estava ligada. Alguém dormiu na frente dela, com a barriga suja de esperma seco, assistindo um filme pornô qualquer, aquelas maratonas de sexo anal, nada muito incomum. Os olhos abriam e olhavam com dificuldade, a boca deveria estar seca há horas. Um copo quase cheio de champagne e um cigarro foram ânimo para se levantar.

Ficou na cama, porém. Pensava na noite anterior com todos os detalhes que queria ou não lembrar. Só ele estava acordado. Entre loiras descabeladas e branquelas de boca aberta, procura seus amigos. Só havia um. Este estava na frente da TV. Novato, pensou, mas começou bem.

Estava descontente daquilo tudo, daquele gosto na boca do dia seguinte, que dali a poucas horas nem seria mais dia, de todo o dinheiro perdido em pó e em bala, que sumia embaixo de vômito ou na bolsa dessas vagabundas maconheiras. Quase todo dia tem sido assim. O pó estava começando a fazer mal, a rinite passou a ser crônica, não sabia mais se o que ele estava sentindo era depressão ou ressaca mesmo.

Deitou. Uma garota ressonava ao lado. Virou-a de lado com nojo e força, como se fosse um bicho, como se estivesse morta. Colocou a mão por trás da cabeça, apoiando-a. Olhava para cima, observando a fumaça do cigarro. Vida besta. Ou isso não é vida. Em vez de ficar procurando minha cueca no meio dessa bagunça eu deveria estar procurando por alguém especial. Sentiu solidão. Sem se mexer, percebeu-se no ambiente onde estava. Para qualquer lado que ele olhasse tudo seria sujo, seria submundo. Sua vida havia se resumido em uma incansável caça, onde o dinheiro, as drogas, as roupas caras e até mesmo sua cordialidade eram apenas para conseguir sexo. Aquilo precisava acabar.

Sente um movimento ao redor. Um outro indício de vida além do seu. Alguém respira, mais forte e se arrasta até o corpo dele como um morto-vivo sede de carne, e começa a chupá-lo. Ele não se mexe.
Por enquanto não.
Apenas sorri.

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