The Ultimate Grace
Alguém tinha me dito pra ir ver Dogville? Pois deveriam ter feito. Esse filme não só mexeu com o meu estômago, como destruiu toda a minha religião e meus valores.
Be Merciful. Be Grateful...ah, VAI SE FODER.
O novo dogma do Lars Von Trier é bem joselito: Tolerância é pra quem pode. RESPEITO É PRA QUEM TEM. Bem ilustrativo mesmo. Pra mim, que não conheço nada do diretor, até que ele foi bem didático. Em "Os Idiotas", me fez acreditar na beleza do corpo e da natureza humana, mesmo na sua forma primitiva, ou disforme. "Em Dançando No Escuro", aprendi a ser misericordiosa com a natureza humana, que tem tantos bons e maus exemplos, mas sonhar é preciso, pois o bem vencerá.
Em "Dogville"....não existe humanidade.
Ela é questionada em TODAS, TODAS as suas bases. O que faz um ser humano SER humano? Até onde se justifica o mal que é criado pela mente humana? Somos, em nossa natureza primitiva, todos bons, e é na verdade a sociedade de nos corrompe? Pois é. Há quanto tempo vc ouviu isso? Não importa, vc sabe que vem de um tempo onde todos achavam ter razão e nenhum deles tem mais. Se nem Freud tem mais razão, meu nego, fudeu. É cada um por si e Deus por todos.
E falando em Deus....
Eu fiquei lembrando o tempo todo da frase: "Peroai-os, Pai. Eles não sabem o que fazem." Meu pai se emocionava toda vez que ouvia esta frase. Dava o outro lado da face para bater, ainda que injustamente. E assim, vivemos sofredores e felizes, esperando o bom senso divino ou estatal (existe para nós alguma diferença?) para nos fazer justiça.
Depois de Dogville, isso não é bondade e sabedoria. É covardia e arrogância.
É de fato arrogante pensar que somos superiores a qualquer mentalidade maldosa, porque a compreendemos e sabemos que não estão fazendo a coisa certa. E por elas não saberem, são menos inteligentes, intelectualmente limitadas. É arrogante pensar que somos retentores da justiça, e que ela virá, pois continuamos a fazer a coisa certa, mesmo para pessoas erradas. O pai de Grace tinha razão. Ás vezes a arrogância está na Misericórdia. Somos semi-deuses porque perdoamos. Como Ele, fazemos o mesmo.
Nunca mais....
Da mesma forma e ao mesmo tempo que Grace, percebi, finalmente, o que todo mundo já sabe: NINGUÉM MERECE. Quanto mais é dado bondade, tolerância e misericódia a um povo, mais este vai pisar em cima da sua cabeça. A natureza humana não existe em todos os humanos. E de fato, através da sociedade ou não, alguns são meros cachorros. Erram por ignorância, ou por medo, não importa. Se não conseguem ver a violência que cometem, sacrifica o animal. Isso é justiça dos homens, cachorros, não importa. É a justiça do agora.
Mas isso também soa muito familiar. Soa como pensamento americano frente ao terrorismo. São cachorros, sub-nutridos e ignorantes, com uma noção deturpada de valores e o que é pior, fanáticos por algo que desconhecemos completamente. Tá dando trabalho? Vamos perder dinheiro? Então acaba com ele, pronto, acabou. São apenas cachorros. Mesmo vale para um pres?dio, pegamos o filme Carandiru, pra exemplo. J? est? l? dentro, enclausurado, vivendo sob valores e sob uma justiça completamente deformada. É fato: não há redenção, não há reforma. Nasceram cachorros, estupraram, mataram, traficavam, gostavam. Vivem cachorros, rosnando e latindo alto, mesmo acorrentados. Morrerão cachorros, acuados, impotentes e incompreendidos. Pois, não há o que fazer.
Se Dogville é um microcosmo do mundo, a pergunta a fazer é: Quem são os cachorros?
Dogville também, em um feliz fechamento, retratou minhas passagens e fantasias sobre São José do Rio Preto. Nunca mais abro a boca sobre essa cidade, apenas responderei, com toda a arrogância que me couber citar Lars Von Trier: "O que eu acho de Rio Preto? Assiste Dogville." Fim da história.
Espero poder incendiá-la um dia também. Não fará falta.
E quanto a outros microcosmos e aforismos sobre o filme, o que eu tenho a dizer é muito simples. Não seja agradecido e não abane o rabinho ao seu dono quando ele lhe dá uma surra doída, e ainda faz questão de ressaltar que é ele que lhe dá abrigo e comida.
Quando for a hora, mostre os dentes, morda de arrancar pedaço e farte-se de sua carne.
* Não perca no próximo capítulo, aforismos sobre A PAIXÃO DE CRISTO: A réplica.
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