12 April 2002

Reality Shows - isso ainda vira tese.


Arnaldo Jabor peca muitas vezes, é fato, mas se tem uma coisa que eu gosto nele é que ele escancara sua opinião sobre a realidade com a mais absoluta classe.
Já não posso dizer o mesmo de José Simão.
Anyway, Doutor Arnaldo desta vez falava sobre Kléber, nosso vencedor do BBB.
Um trechinho:
"Triste país este em que pessoas como Kleber viram ídolos. Sem ter feito nada de bom, apenas por que fracassaram na tentativa do mal, são julgados inocentes."
E por aí vai.
Tempos atrás, conversava com um amigo sobre os reality shows.
Ela me disse que a Casa dos Artistas era um caso a ser estudado, pois no final, quem venceu (não me digam que foi a Bárbara porque não foi ela.)não foi alguém do povão, alguma bunda gostosa ou o malandrão da praça. Foi alguém honesto e inflexível dutante todo o tempo, que se mostrou uma pessoa de princípios, de opinião própria, que vem de uma educação exemplar, com nível de instrução altíssimo, um distinto cavalheiro, tal como Johnny Rotten: Eduardo Suplicy, o filho. Supla.

Alguém que nunca teve nada a ver com a "realidade brasileira". E nem dona Bárbara Borrada. E ambos foram os favoritos da audiência SBTriana dutante todo o programa. A mesma audiência que depois ia assistir ao sorteio da Tele Sena.

como jogar


Ninguém que poderia representar o povão ficou muito tempo, ou teve muito sucesso com a audiência. Núbia Ólive, Nana Gouvêa, Marco Mastronelli e todos os outros pseudo-classeA/B deixaram a cassa muito cedo, por justamente revelarem não ter inteligência suficiente para jogar como tinha de ser jogado.

Na Casa dos Artistas, diferente do BBB, jogar é algo consciente o tempo todo, é prioridade.
Se for bonzinho demais, te botam pra fora, a audiência desconfia.
Se tentar fazer armação, a casa descobre, a audiência elimina.
Ninguém lá dentro vota um no outro porque um não ajuda a lavar a louça, ou porque a casa não está boa, ou porque não souberam dividir a porra do leite condensado.
É tudo completamente pensado. Na Casa, é cada um por si desde o começo, não tem essa de ser humano, realidade o caralho. Todo mundo sabe porque está lá dentro: Auto-promoção. Marketing pessoal. 400 mil reais. Se o feitiço se vira contra o feiticeiro (vide Carola), aí já é outro problema.

as super-mulheres


Na minha opinião, duas fortíssimas favoritas desta Casa 2 são as duas Sex Symbols: Feiticeira (ah desculpa, Joana Prado) e a Tiazinha (ai, perdão, Suzana Alves). As duas têm se mostrado extremamente comuns, a Tiazinha mais kumba do que nunca, falando altas besteiras, mas sempre está apartando as brigas na casa. Achava que essa menina era uma cobra, uma vulgar pé-rapada que fez FMU de hobby, e ela está fazendo questão de mostrar o contrário.
A Feiticeira, nem eu estou acreditando no que eu estou vendo. Principalmente após o Vitor ter entrado na casa, a máscara (ai, perdão novamente, o véu, o véu!!!) caiu. Ela se mostrou totalmente menina, totalmente fofinha. Com as meninas ela é sempre um amor, aquele tipo de amiga que nunca vai se colocar superior a ninguém, e vai estar sempre lá pra consolar ou dar bronca. Com os meninos, ao contrário do que se esperava, ela age como uma boa amiga apenas, nem como um brother (pra falar dos supinos nossos de cada dia), nem como uma eterna sedutora (como a Nana fazia).
Com o Vitor, a gente esquece dos músculos e esquece do véu. Ela vira só Joana. Faz chantagem, é carente, faz charminho, faz biquinho, fala com ele que nem criança, quer carinho, quer colo, é uma mulher normal, porra!

Nós, meros mortais anônimos, costumamos achar que as Sex Symbols são mulheres vulgares,burras, barraqueiras, invejáveis e invejosas (no melhor estilo Malandrinhas), ou então mulheres plenas, sedutoras, que parecem saber lidar e devorar qualquer homem e estão sempre prontas para encarar o papel de deusa do sexo (no melhor estilo Vera Fischer). Suzana e Joana, bem como a Mari Alexandre na casa 1 estão mostrando que elas não são super-mulheres coisa nehuma: elas podem sim ser frágeis, apaixonadas e ter problemas no relacionamento e na cama, ter espinhas e estrias. E não ter a menor vergonha de ser assim.

É foda pra gente admitir isso, não é?
Ver alguém na capa da Playboy e chamar aquilo de profissão;
Ver uma loira peituda aspirante a artiz casando com um pagodeiro famoso e chamar isso de amor.
Ninguém consegue olhar para isso e não tirar um pré-conceito de quem é assim. Até mesmo quem levanta a bandeira do respeito à igualdade entre pobre, bicha, retardado, preto, não consegue olhar para a capa da Playboy e ver aquilo apenas como um modo de profissão. Não, aquilo tem que ser sujo, pra ganhar esse dinheiro todo ela deu pra meio mundo, ela não tem sentimentos, vai casar por interesse. Sinceramente, não estou sentindo isso em nenhuma delas.

o Xis da questão


O Xis foi um cara que me decepcionou muito. Achei que ele fosse um cara simples, gente boa, da paz. Ele sem dúvida nehuma, se mostrou a cara mais preconceituoso da Casa 2. O tempo todo ele olhava para aquelas pessoas como se ele fosse alguma coisa diferente daquilo, o único ser inteligente da casa. O único artista de verdade. Trabalhador, de respeito.
Não queria falar com ninguém, não queria criar vínculos (o que o povo da ZL ia dizer de uma amizade entre ele e o gêmeo?), só dormia, reclamava, fazia cara feia e lia.
O pior aconteceu com a Mariana Kupfer.
Era preconceito gratuito em cima dela.
Eu também não gosto de patricinhas. Não gosto nem da Mariana, acho ela tão enjoada quanto o Xis. E por mais que ela negue, ela é uma filhinha de mamãe, que nasceu cheirando à Giovanna Baby e aparece na coluna social quase toda semana.
E DAÍ?
Ela por acaso tem culpa de não gostar de Hip Hop? Ela é responsável pela pobreza do país? Ela tem culpa de ter nascido rica?
O Xis acha que sim.
E pra piorar a situação dela, ela ainda confunde o Xis com outro rapper, o presidíário Afro-X, marido da nossa ex-ídola infantil Simony. (pra quem não pegou ainda: a Mariana, antes de entrar na casa revelou para as amigas seu medo de levar consigo suas jóias, pois o rapper Afro X também ia participar do programa.)
Tá, foi um comentário escrotinho, mas francamente, seu você fosse morar com um cara que foi preso por assalto à mão armada, você também não teria o mesmo medo?
Eu nem sei se ele foi preso injustamente, ou não, não importa. Eu não sou hipócrita suficiente pra falar que eu teria medo de morar com um cara que já viveu dentro do Carandiru. Ainda mais se eu fosse rica, branca e judia.
Mas novamente a piedade cínica que a sociedade tem sobre os negos prevaleceu. Um comentário totalmente bobo vira discussão nacional sobre diferenças sociais e raciais
Nas palavras dele: "Eu só queria ficar na casa se fosse pra ir para a final com a Mariana Kupfer, então seria uma disputa entre a burguesia e a periferia."
Desculpe, mas eu estou me lixando pra periferia. E foda-se se eu não vou ao Leopoldo todo dia. Mas eu tenho respeito pelas pessoas que são diferentes de mim, sejam elas dondocas ou domésticas, patricinhas ou prostitutas, judias ou católicas.
Cada um tem seus problemas. Ninguém é melhor que ninguém. E doutor Xis parece que não entendeu muito bem essa questão.
Nota zero. Acho melhor ele reler a biografia de Malcolm X.

BBBosta


Nem vou me estender muito neste ponto. Só coloco uma observação:
Quero ver o Roberto Marinho fazer o que o Sívio Santos faz todo domingo!
O sbt roubou sim, a idéia do Big Brother, e fez melhor: colocou artistas lá dentro, para atiçar ainda mais a curiosidade das pessoas.
Porque, francamente, da minha vida real eu já sei. Eu sei que eu tenho celulite, que eu acordo descabelada.
Ninguém precisa me mostrar isso.
Mas mostrar a remela da Ellen Roche e as espinhas da Feiticeira? O Mário Velloso obrigado a ficar em casa, sem poder ir em balada nenhuma?? That's the real show, baby! Isso é inédito.
Agora, porque eu vou querer ver gente normal? Gente normal fica deslumbrado porque está na TV, gente normal já vive um cotidiano normal sem badalações, só com Faustão de domingo, gente normal leva a vida como a gente!
Aí, a rede Globo, com uma estratégia mais manjada impossível, escolhe todos os estereótipos de gente normal e gente que parece normal para fazer o programa: uma bulímica, uma loira-típica-carioca-bairrista-farofeira-sem-classe, uma loira gaúcha escultural (?), uma bicha enrustida, uma negra, um ex-punk que vive na terra do Axé, um suburbano semi-analfabeto com sotaque e nível de instrução tal qual a de um motoboy. Todos com supostas interessantes histórias de vida pra contar.
Muito bonito, mas pra isso existe uma outra fórmula mais eficaz e brasileira: NOVELA.
No final deste fracasso com sotaque gringo, surge o que havia de mais podre lá dentro e ganha o jogo. Ele agora simboliza a realidade brasileira, como a mídia têm apontontado.
Tipo, oi? Como assim? Fui só eu que me ofendi de ser representada pelo Kléber?
Pedro Bial, o Kléber é ignorante E burro! E vcs ainda tem a coragem de confundir isso com humildade.
Humilde foi o Sérgio. O cara era um dos que mais ganhava dinheiro entre aquelas pessoas. Ouvi que, para agitar suas tesouras, ele cobre, por baixo, uns 1.400 reais. Alguma vez ele destratou alguém?
Não foi esse o caso do Kléber. Mas o Sérgio não era brasileiro.
Alguém tinha que representar o B de Brasil nos outros Bs de Big Brother.
Eu só espero que a rede Globo algum dia perceba a cagada que fez, nos rotulando para o mundo inteiro como ignorantes, malandros, estúpidos, fúteis e trogloditas.

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