15 May 2002

Um piquenique para três


Uma grande leitora do mango me falou semana passada que às vezes a cidade bem que poderia ensinar o mato e vice-versa.
Justamente naquele final de semana eu fui pra Campos do Jordão com um amigo e entendi o que ela quis dizer. Coincidência maior foi eu ter levado meu diário nos tempos de Prata pra escrever aqui pro mango.
Nesse diário, além de intermináveis histórias e poemas (óbvio, toda menina de 17 anos escrevre poemas.longos.), também estava escrito algo sobre cidade e mato, baseado em outras lições que ela havia me ensinado e que depois de um tempo, fui entender e traduzir pra minha vida.
O texto cheira a madeira molhada. Mas eu não vou transcrevê-lo aqui por que ele é extremamente kumba. Além do mais, é do meu diário, eu não vou ficar escrevendo coisa pessoal minha aqui.
...
Cri .... cri ..... cri ..... cri* ...... (*= grilo acme)
Bom, lendo aquilo de novo, sentindo aquele friozinho de serra de Campos, aqueles ares de mato, cachoeira, morro...
Meu Deus, como a Prata me faz falta.
Esqueci que meu coração tinha duas casas.
Havia me esquecido de como eu era lá. Não é que eu me transformo, mas é onde eu sei que existe um outro lado meu guardado pro...mato.
NÃO, EU NÃO USO SAIAS INDIANAS QUANDO VOU PRA LÁ. TAMBÉM NÃO É ASSIM.
Esse lado "mato" existe em todo mundo. Tem gente que desperta esse lado no mato mesmo. Tem gente que desperta na praia. Quantas pessoas vc conhece que têm verdadeira obsessão por praia, que tem que ir de tempos em tempos senão não consegue viver bem aqui, em SP? Pois é extamente isso.
Esses lugares não são refúgio. Não são lugares pra onde vc vai esquecer de vc. Você vai pra resgatar uma parte de vc que vc esqueceu. E que vc acaba sentindo falta.
E todo mundo não tem dois lados? (E não tem gente que tem mais? - um amigo questionaria). Nada de lado bom ou ruim (isso é coisa pra AXE Fusion), apenas lados diferentes de vc, que gostam de coisas diferentes e convivem aí dentro, junto.
O foda é que tem muita gente que fica atropelando os dois. Só porque adora sair de balada em SP, fica puto quando não tm coisa igual na praia ou no interior.
Baby, balada vc vai em São Paulo.
A noite é pra ser curtida aqui mesmo, nada vai ter os ares da noite de SP.
O dia você deixa pro mato. Porque SP nunca vai ter os mesmos ares de um dia de sol na praia.
Duas coisas que são completamente diferentes, mas que fazem parte de vc.
Cidade e mato. Cada um pra companhias diferentes.
A noite de São Paulo é para estar na companhia de deuses inquietos e calientes.
Um dia no mato é pra fazer piquenique...pra você, velhinhas, mocinhas e mulheres.

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