06 January 2004

reconstruindo mary



Em algum momento eu fui ensinada que eu não poderia ser melhor que ninguém, e que se eu fosse seria errado, e eu sofreria, e eu vivia cheia de culpa. Aquela maldita cidade. Aquela cidade me matou. Minha adolescência me matou. Rodeada de tanta inveja e insegurança me protegi sob uma capa de normalidade imunda e pesada. Lá fiquei até os 18 anos. Sofri o diabo, queria tanto que aquilo tudo passasse, a raiva do mundo, a repulsa do mundo, eu não imaginava que aqueles anos fossem me danificar tanto.

Eu culpo ela sim. Culpo ela e mais um monte de gente. Mas ela, sei lá, ela pra mim é muito culpada. Só que eu não quero pensar que a culpa é dela. Porque se for, o que lhe resta pra fazer? Nada, certo? Quer dizer, como ela poderia consertar o que fez se aquilo já passou, não teria remédio. Por isso eu estou aqui falando com o senhor. Quem sabe eu não chegue no final e descubra que a culpa de tudo isso é toda minha? Tomara. Assim eu sei que ainda tem jeito consertar.

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