capítulo 1
Aquele dia não quis ir pra a terapeuta. Ligou antes para desmarcar a consulta e fez questão de não inventar desculpas nem mentiras. "Apenas diga para a doutora Márcia que eu não quero vê-la hoje."
Mesmo assim, saiu para andar. O celular tocou, como sempre, assim que Duda enrou no carro. Era o namorado. Não quis atender. Ela gostava muito dele, mas sentia que naquele dia, qualquer ligação com o dia de ontem ia lhe fazer mal.
Fazia uma linda quinta-feira. E estava quase acabando, não tinha muito tempo. Deu uma volta por ali mesmo, no alto da Lapa, pensou em parar no Villa Lobos para correr. A preguiça não deu tempo ao retorno para a entrada ao parque. Passou reto. Acendeu um cigarro.
Para a consiência (nem a balança) pesar tanto, preferiu uma água de côco a uma cerveja naquela sua happy-hour particular. E por que não, tomá-la na praça do pôr-do-sol, um dos poucos lugares em São Paulo onde dá para sentir um pouco de paz, mesmo com a onipresente galerinha do baseado, que sempre atrai polícia, que sempre repele qualquer sensação de paz.
Foi fácil de parar o carro. Bom sinal. Comprou sua água e junto com o inseparável maço de cigarro, foi procurar um bom lugar para ver o sol. De preferência, um lugar onde não tivesse muita gente por perto. E embora houvesse lugares assim, Duda preferiu sentar-se ali, um pouquinho mais afastada do seu carro, onde alguém estendia uma canga no gramado e sem a menor intenção de ser, lhe lançou um sorisso. Um gesto solto no vento, como alguém que cumprimenta outro ser da mesma espécie, apenas por afinidade instintiva.
Duda caminhou em direção ao sorriso que a convidava. Era uma imagem que o sol contra-iluminava, o semblante laranja-claro, e um olhar no meio daquele rosto ainda incógnito. Só pôde enxergar aquela moça que lhe estendia a mão quando se pôs contra o sol, que por trás de toda aquela paisagem de concreto, custava a se pôr.
- Prazer. Meu nome Gil.
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