17 June 2004

Como alguém que não tem rosto. Alguém que não tem mais nada, nem o direito de ser, por um só dia, infeliz. Como alguém que não sorri mais porque não chora, porque não pode ser gente, porque gente sente, e se sentisse, não conseguiria viver com algo que não lhe faz sentir nada. Nem prazer. Nem raiva. Porque a raiva tb se sente.
Como alguém vazio, vácuo, verde. Como alguém que de desfaz dos seus sonhos para não pirar, e certamente pirará um dia sem eles. Como um dia morto, como um assunto mal-acabado, uma noite mal-dormida, como um silêncio doído. Como uma foto antiga e fosca, como uma boa lembrança vazia. Como alguém que esqueceu da alegria, esqueceu de sonhar. Como um olhar inerte. Como uma cegueira ignorante. Como uma punheta que nunca será uma foda, como uma foda que teria sido melhor se fosse punheta. Como alguém que sente frio, e treme calado, sozinho. Como alguém que sente fome diante do prato cheio e intocável. Como alguém que não grita, não fala, não mais se debate, não mais se exige. Não mais se existe. Como alguém que está do seu lado invisível e sem pulso. Como alguém que você não entende. E só vai entender quando se tornar alguém como ele.
Como eu.


Maria Ninguém
E Maria e é Maria meu bem
Se eu não sou João de Nada,
Maria que é minha é Maria Ninguém
Maria Ninguém é Maria como as outras também
Só que tem que é ainda melhor
do que muita Maria que há por aí
Marias tão frias
Cheias de manias, Marias Vazias
pro nome que tem
Maria Ninguém
É um dom que muito homem não tem
Haja visto quanta gente que chama Maria
e Maria não vem
Maria Ninguém
E Maria e é Maria meu bem
Se eu não sou João de Nada,
Maria que é minha é Maria Ninguém.

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