12 January 2006

Macaco, me morde.
Um dia de fúria com pipoca.

Dois pretos salvam o filme: Jack Black e o macaco. E que este seja o último trocadilho desse texto (não-pejorativo, pelo amor de Deus, eu estou me referindo à cor preta). Porque o senhor recém-magro Peter Jackson fez o favor de gastar TODOS em King Kong. Das pouquíssimas falas que existem no filme, nenhuma escapa de frases de efeito. Takes de efeito. O barquinho. O olhar do macaco. O pistão do motor. O olhar do macaco. Mais barquinho. O dente do dinossauro. Durante-3-horas.

"It wasn't the airplanes; it was beauty killed the beast."
"Actors! They travel the world, and all they see is a mirror."

...

Não é só o macaco, tudo em King Kong parece falso, premeditado, pronto pra viagem. A trilha sonora, o retrato social, os cortes secos, os slow-motions, até a fotografia, linda, com pores-do-sol dignos de Wallpaper do Windows. As interpretações que sofreram com suas falas...Adrien Brody, Naomi Watts, só Jack Black salva. Esse fez milagre, faz o filme valer a pena existir. Naomi deu uma entrevista falando que pra ela foi meio "desafiador" contracenar com uma tela azul e outra verde...mas que o Peter Jackson ajudou muito a visualizar cada cena, e como ela deveria se portar. Filhinha, mas isso é o mínimo, não???? A bicha trabalhou 85% do filme com nada. E detalhe: sem diálogo. Até imagino a coitada de frente pra uma parede e o Peter gritando: "Vai Naomi!!! Olha a cara dele!! Ele está muuuuuito nervoso!". Na hora ela deve ter pensado, que filme do David Lynch faz muito mais sentido.

Mas ao contrário do que eu previa, não achei parecido com o Senhor dos Anéis. A não ser pelos laços interpessoais mal-explicados e altamente insinuosos: dois "casais" do filme, o cozinheiro e seu ajudante chinês, ou os dois da tripulação Hayes e Jimmy (que fez Billy Elliot), têm uma amizade como a de Frodo e Sam: vai longe demais, mas ninguém explica nada. Sem contar no romance que enrosca muito pra começar e não termina, exatamente como na trilogia anterior deste sucinto diretor que é o Peter Jackson.
Não sei como ele casou.


Eu saí do cinema cansada. E ofendida. Pensei em levantar antes de terminar o filme umas 3 vezes. Como eu fiz quando fui ver Bem-Vindos, como deveria ter feito quando fui ver Amarelo Manga, três gêneros diferentes conseguiram me emputecer. Será que a indústria cinematográfica está mesmo uma merda ou sou eu que cada ano que passa fico mais sem paciência? Não dá, né, seu Peter? Festival de clichê nessa altura do campeonato, em tempos onde até o Hasta La Vista, Baby já saiu de moda, onde Titanic demorou, mas já afundou e onde o Poderoso Chefão já e a Sofia? Eu não tenho mais estômago pra tanto enlatado.

King Kong só pode ser uma piada de muito mal gosto, ou como a própria moral do filme ressalta:

Pode botar qualquer macaco aí que a gente aplaude.

2 comments:

Anonymous said...

vc ja foi ver Brokeback Mountain???? SENAO, VAAAAA VER JA! E mto bom!

Fernando Kallás said...

Realmente, é um pé no saco!