20 July 2007

Congonhas Segue Operando a Todo Vapor.

O título foi escolhido obviamente porque o Brasil merece o aeroporto que tem.
Bota-se a culpa na TAM, nos controladores, no Lula, na pista, no posto, no combustível. Os atletas do Pan ficam de luto. A Globo, a Record, a CNN, todas ligam o modo-Ayrton-Senna-de-Jornalismo porque é sabido que o Brasil tem coração de manteiga.

E Congonhas? Segue operando.

O Foker 100 despenca no Jabaquara. E Congonhas? Segue operando. A Gol disponibiliza uma mega frota low-cost, compatível com o bolso mas incompatível com o céu do país. Os voos triplicam. E Congonhas? Segue operando e expandindo. O que era pra ser só ponte aérea vira mini-internacional. Os controladores de vôo prostituem o céu inteiro, trabalham sem a menor segurança para que todos eles possam voar.
Eles.

Eles que agora acham que rodoviária é coisa de pobre. Eles que agora pedem capuccino e petit gateau. Eles que querem a todo custo pertencer ao novo ambiente, e captam todo e qualquer trejeito de passageiro idiota. Eles que jamais podem esperar numa fila. Eles que nao entendem o que é check-in, nem seus horários. Eles, que ontem comiam frango no Gol e hoje arrotam peru na Gol. Eles, a quem ainda nao sabemos responder à sua pergunta favorita: "voce sabe com quem vc está falando"?


Eles agora andam é de avião.

E é o cúmulo nao ter voo de 5 em 5 minutos. É o cúmulo voo atrasar. É o cúmulo a Gol nao servir lanchinho. É o cúmulo o espaço entre as poltronas ser pequeno. É o cúmulo esperar a mala passar no raio X. É o cúmulo esperar de pé. É o cúmulo essa fila, essa crise, esse refrigerante sem gás. É o cúmulo esperar obra terminar pra voltar a operar o aeroporto mais movimentado do país.

Corte seco. O Airbus da TAM nao deixou simplesmente ninguém vivo pra contar a história. Nenhum. Todo mundo morreu.

E Congonhas? Segue operando, claro, com voos atrasados, cancelados, imagine. É o cúmulo.
No próximo acidente eu posso fazer piada?

Foi um acontecimento infeliz, mas certamente ficou mais infeliz hoje. Esse acidente poderia ter acontecido depois de hoje, semana que vem por exemplo. Porque claro que ia acontecer, aconteceram todos os outros anteriores, como outros hão de acontecer se nada mudar.

Mas hoje, nao imaginava que esse vaso ia quebrar.


O Brasil perdeu um dos maiores responsáveis de encher de lama e sangue a história da política desse país. Hoje a gente quebra mais um elo da corrente desse coronezinho que manda, desmanda e escraviza nossa mentalidade desde que mundo é mundo.

E essa data infelizmente foi ofuscada pelas mortes de 2 dias atrás. Até pra isso esse filho da puta foi estratégico. Mas isso nao vai apagar o dia memorável que ele faz desta sexta-feira, 20 de julho de 2007, com sua morte.
Hoje é dia de festa. Antônio Carlos Magalhães morreu.

Hoje é dia dos atletas do pan colocarem fitinhas vermelhinhas.
Hojé é dia de micareta. Ou qualquer otra coisa que agora signifique "fora de época".
Hoje é dia dos nordestinos fazerem suas piadas.
Hoje é dia de fazer oferendas .
Hoje é dia de branco.
Hoje é dia chorar, mas chorar com gosto. Porque a gente merece expurgar esse velho que fez tanta gente sofrer, tirar essa nhaca pra sempre, tomar banho de sal grosso, e rir, rir até nao poder mais, rir até cansar, pra ver se cansa de uma vez ese país de rir, que ri pra nada, ri de desespero, ri de nervoso, ri pra esquecer.

Riam, mas riam alto.

Porque amanhã tudo volta ao normal. Política, corrupção, violência, rede Globo, imposto, Pan, tráfico, trânsito, fila e atraso.

E Congonhas.

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