18 July 2003

A namorada.



Se viram pela primeira vez no aniversario da namorada dela. Ela era mais velha, e apesar de nunca ter sequer beijado um homem na sua vida, era extremamente mulher. Ana sentiu-se menina perto dela. Na verdade, um menino. Um menino ingênuo, com pinta de experiente no assunto mas que diante dela, era apenas um menino. Mesmo assim, ela se aproximou. Ana nao deixou transparecer um certo interesse, nem que fosse apenas por sua beleza, afinal ela namorava sua professora, ha muito tempo. Nao teria a minima chance.

Tudo era sorrisos ao seu redor. Mas aqueles olhares rapidos que elas de vez em quando trocavam deixavam quase gritante um visivel desejo, que parecia ser correspondido. Porém nada seria exposto em palavras, nada disso era permitido. Ana nao queria mais encrenca em sua vida. Mas parecia que era justamente isso que a namorada procurava nela.

Quando foram finalmente apresentadas, tudo soava como se nada estivesse acontecendo. De perto, as duas trocavam perguntas triviais e descartaveis sobre suas vidas, como é de costume, mas Ana nao ousava em olha-la diretamente. Sabia que se o fizesse poderia ser descoberta, ou pior, repreendida. Mantinha tudo muito correto e formal, como um presidiario em condicional tentando acertar novamente sua vida. De volta à distância, os mesmos olhares se estenderam pela noite toda, porém Ana seguia desconfiada, e disfarçava.

Conforme a garrafa de vinho esvaziava, ficava cada vez mais dificil controlar. Ana deixou escapar um comentario com a cunhada, sobre a beleza da namorada. Frente aos trejeitos masculinos de sua professora, nunca imaginaria uma namorada assim. Aquilo foi o estopim para todos os acontecimentos que se desencadearam depois. Ana levantou, precisava se recompor, foi ao banheiro. Preocupada como estava, nem percebeu que a namorada levantou logo em seguida. Entrou na cabine, ja cambaleava de leve, era o sinal para ir embora. Ouviu um toque na porta, alguém a chamava la fora. “Você esta bem? Quer uma ajuda?” Estranhou. Nao estava tao bêbada assim. Abriu a porta e sorrindo, a namorada surgiu na sua frente. Ana se assustou, ajeitou o cabelo, estava bem. Ela entrou na cabine junto com Ana, e sem a menor cerimônia, agarrou-se delicadamente em sua cintura, envolvendo-a com um beijo. Ana correspondeu da mesma forma, era isso o que queria, nao faria uma desfeita agora por motivos morais que estavam la fora, longe delas. Sem nenhuma palavra, a namorada foi tirando suas roupas e ajudando Ana a tirar as dela. Foi ali mesmo, tao longe e ao mesmo tempo tao perto do perigo de serem descobertas. Intensamente tocaram suores, beijos e abraços, toques tao leves como pétalas de rosa, dois corpos femininos dançando juntos no mesmo ritmo. Ofegantes, se entreolharam. Ana ainda tentava recompor as idéias em sua cabeça. A namorada sorria, satisfeita. Tudo havia saido exatamente como planejado.

Ana saiu e foi diretamente pagar a conta. Nao conseguiria ficar na festa e esconder o prazer proibido que ha pouco havia lhe consumido. Com um misto de culpa e medo, despediu-se de poucos e saiu. No taxi, Ana ainda tentava entender como aquilo acontecera com ela. Um fato que so se vê em filmes ou em contos de escritores despudorados havia se consumido ali, com ela. E com outra mulher que jamais havia visto antes daquela noite.

No dia seguinte, quis muito a procurar novamente, mas nao havia a menor possibilidade de fazer isso sem que levantasse alguma suspeita. Ficou apenas deitada, lembrando com detalhes da noite anterior, porém com a plena sensaçao de que isso nao viria a se repetir. O telefone, longe da cama, toca. Correndo, descobre decepcionada se tratar de um amigo. Gruniu qualquer desculpa para nao falar o que realmente sentia, e logo desligou para sonhar novamente. E entao lembrou-se da realidade: ela era uma namorada. A essa hora, deveria estar junto com sua professora, sem sequer pensar no que havia se passado. Foi so um momento, essas coisas so acontecem uma vez, pensou. Conformada com sua situaçao, levantou e desfrutou-se de um longo banho. Nao ouviu quando o celular tocou de novo, incansavelmente à espera de sua resposta. Era ela. Havia dormido sozinha pois também concluiu que seria impossivel disfarçar o que havia acontecido. Estava estampado em seu corpo e em seu pensamento. Esperou muitas vezes o telefone chamar. Precisava senti-la novamente. Enfim desistiu, desapontada. Por fazer-se namorada de uma pessoa tao querida de Ana, sentiu-se culpada por tê-la colocado em tal situaçao. E apesar de estar disposta a arriscar tudo para vê-la mais uma vez, contentou-se apenas com a realidade de que talvez, nunca mais a veria novamente.

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