27 May 2004

Erotique Nouvelles


De: maria.angelica@maisonz.com.br
Para: amigos
Assunto: Allez à la Maison!



Mas o e-mail é chic ou não é?

Que minha mãe me perdoe, mas é fato comprovado:
Mamãe, nasci pra vender pinto.
Ontem, dia de inauguração da loja, ironia ou sadismo do destino, logo eu fiquei incumbida de atender aos clientes no cômodo que elas chamam de "Samantha's Room". O quarto dos brinquedos. O nome é em homenagem à personagem Samantha, a amiga quarentona taradinha do seriado Sex and The City (sempre ele.). Logo eu já me aconhegaria junto à Samantha e os brinquedinhos de nomes longos e peculiares.
O clima na loja era extatamente como eu tinha imaginado. Como diria Beatriz Penna, aquelas pessoas que eu achava que eram feitas de cerâmica, que a gente só vê em foto, paradas e sorridentes, todas elas circulavam entre risadinhas e flashes de fotógrafos, entre lingeries e algemas de pelúcia.

Minha reação diante do espetáculo persona me deixou feliz. Não foi de tiete (Deus, será que existe tiete de socialite??), nem de desprezo por essa classe burguesa-fútil-sem naipe-consumista, nem de medo. Eu estava ali profissionalmente. Tomando champagne, sorrindo muito e demonstrando vibrador profissionalmente. Fiquei feliz porque eu estava familiarizada com o ambiente, mesmo sem ter nunca estado nele nem ter pertencido a ele. Graças a Deus, mais um rol no qual eu posso entrar e sair na hora que eu quiser. Não sou socialite mas tb não cuspo no chão.

Como sempre, os mais famosos eram os mais simpáticos. Muita gente de nariz torto pra qualquer um que não tivesse um lobby. Uma noite pra concluir que jacu não escolhe classe social. E muitas louras, muita pele, muita desavisada, muitos homens daqueles que falam alto no celular e falam baixo atrás de você.
E muito, muito dinheiro. Ontem os pedidos na loja foram gordos. Mas o que mais encheu aquela minha salinha foi a curiosidade.

E como encheu, vcs não fazem idéia. No começo, muita gente só olhava (e de longe), as formas variadas e estroboscópicas dos vibradores e dos "massageadores". Conforme o champagne vinha subindo pro andar de cima, assim como a "PINK" (uma bebida feita a base de suco de morango, vodka), todo mundo ficou mais á vontade, até pra perguntar o que diabos era um Impluse Super Vibrating Dolphin. E claro, eu sabia o que era.

Poucos olharam de cara feia, algumas mulheres, as novas, porque todas as senhoras adoraram tudo. Tinha até a que quisesse encomendar a Bondage Bed. "É pra por no meu banheiro", me esclareceu. Homens, tímidos, não querem pegar em nada, só estou olhando mesmo, obrigado, olham de longe, longe. Desses eu não chegava perto. Imagine vc olhando fixo para um pinto de borracha que simplesmente te embasbacou e tá a vendedora atrás de vc, doidinha pra te ensinar como usa? Não dá. Deixa que se ele quiser ele me olha, um sinal, uma interrogaçãozinha na cabeça e eu me disponibilizo. As fantasias encantaram, merecedor, todas são lindas, gueixa, a policial, a camponesa, a policial, a fadinha, eu já falei da policial? Os produtos mais divertiam do que seduziam, não houve muita compra.Poucos se arriscaram para encomendar alguma coisa. Afinal, jornalistas estavam a postos. Qualquer movimentação, pra dentro, pra fora, pra cima e para baixo, de qaualquer um lá dentro, os meninos já avançavam. Mesmo assim, milionários e famosos garantiram alguns brinquedinhos. Entregamos em casa.

Clientes me fazendo perguntas na surdina. "Tem desse aí de qual tamanho?", "Vc pode abrir a embalagem pra eu sentir a pele?", "Cadê aquele de chocolate?", "Qual que é a borboleta?" "Você tem a borboleta?", "Cadê as borboletinhas cor-de rosa?". Essas borboletas definitivamente foram a coqueluche entre o mulheril indócil e endossado da noite. Borboletinha pink, essa vai ser sua melhor amiga, uma dizia para a outra. Todas tinham alguma amiga que tinha falado que aquilo era uma coisa. Como funciona? Baby, se eu te disser, vc não vai querer ouvir até o final. Pega uma e vai pra casa ser feliz.
Os homens, vinham com aquela perguntinha formada: "Vc já testou todos os produtos que vc está vendendo?" Não, mas a loja só inaugurou hoje, eu respondia. Outros vinham com perguntas do tipo: "O que vc tem de novidade?" (imagine o gerente do seu banco nesta situação). Pra sair pela tangente, eu dizia "tudo é novidade!", tão comercial. Ele insistia "mas eu quero saber o que vc me recomenda." E agora? Eu vou mostrar o que pra esse homem? Ele é homem mesmo? Bom, tem esse aqui que eu acho divertidíssimo. É um molde pra vc fazer seu próprio dong, vc pode até fazer com o seu e dar de presente! "MAS ISSO É COISA PRA HOMEM! EU QUERO É COISA PRA MULHER, UÉ.". Pronto, agora fudeu. Literalmente. Eu zonza, sem saber pra onde olhar, quem será ele, mais um fulano de tal que eu não conheço, mas todo o resto do mundo sabe quem ele é. Até que ele me deu um norte. "Eu quero dar um presente pra uma namoradinha minha, sabe? É que a gente tá junto faz tempo, mas ainda não rolou nada..." Ah, sim, claro, tem aqui sim. E mais um cliente satisfeito sai do quarto de Samantha. Falando em nome, houve até quem comentasse que meu nome era perfeito pra loja. Maria Angélica. Angelical, trabalhar numa Sex Shop chiquérrima e perfumada de baunilha. Tudo a ver.
E no final das contas eu também achei. Felicidade não é encontrar prazer no trabalho? Par conséquent, Marie est plus plus heureux dans la Maison.
Venham me visitar, quem puderem. Vistam-se bem, estejam com a mente e o coração abertos. O resto a gente faz.

Beijão pra vcs e me desejem sorte.

Gegé.

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