25 February 2003

cleaning up my closet



Meu quarto estava uma bagunça.
Já faz um tempo que não chamamos a empregada para limpar a casa, e até que demos um jeito de botar ordem nela (semana passada lavei sozinha a sala, a cozinha inteira, e o banheiro – ontem lavei minhas roupas). Mas meu quarto continuava desarrumado.
No chão, roupas e maquiagem que eu usei sábado passado para sair. Papéis de contas, anotações ainda sobre o fashion week. Uns telefones (que eu não sei de quem são). Um bilhete escrito: “Queria te dar um beijo”, escrito por um barman de uma balada que eu fui há mais de um mês. CDs que eu não paro de ouvir, dois cinzeiros (sujos), coisas velhas, o velho baralho da minha avó. Tudo fora do armário. Coisas que eu não sei o que estão fazendo fora dele. Mas que eu tirei, por algum motivo que eu não faço a menor idéia de qual seja agora.

A bagunça geralmente começa porque dá muita preguiça de arrumar. Às vezes por medo de arrumar (você sabe que uma arrumação de quarto sempre toma mais tempo do que parece) ou por pura acomodação (afinal, o quarto vai ser bagunçado de novo, so what’s the point?)
Então eu deixei tudo lá, desarrumado, com todas as coisas jogadas no chão, ou fora do lugar. Às vezes eu pegava alguma coisa, deixava no lugar dela, embora este estivesse com um monte de coisas embaixo, que eu fingia não ver.

Comecei a perceber que eu estava com medo de entrar no meu próprio quarto. Olhava pra ele e me dava desespero. Mas eu simplesmente não fazia nada. Deixava tudo ali e saía. A sala virou minha melhor amiga. Como é mais fácil de arrumar eu ficava lá o tempo todo. Dormi no sofá duas vezes, só essa semana. Mas não estava dormindo bem, claro, eu sabia que eu tinha que fazer isso no meu quarto, mas dormir nele era ainda pior. Há muito tempo tenho acordado com umas olheiras terríveis, tenho sonhos agitados e confusos. Embora toda aquela bagunça estivesse me incomodando muito, eu fazia questão de ignorá-la.

Quando tinha visitas, das duas, uma: ou eu fazia o convidado não entrar no meu quarto, ou então deixava entrar daquele jeito mesmo, foda-se o que ela vai pensar de mim. “Não repare a bagunça”, era o máximo que eu me desculpava.

Hoje eu estava na minha cama (que eu arrumei, por desencarno de consciência) e vi no chão uma blusa minha que eu adoro, jogada no chão. Poxa, como eu deixei isso aí, por que eu não tomei mais cuidado com ela? Comecei a dobrá-la e achei debaixo dela outras coisas que são valiosas pra mim, que eu simplesmente estava deixando juntar poeira no chão. O colar da minha vó, uma blusa novinha, completamente encardida. Fiquei com vergonha. Muita. Poxa, eu sou uma mulher, não é isso que eu sempre digo? Me olhei no espelho, minhas pernas estavam de deixar a Chita com inveja. Meus pés datavam da idade das cavernas. Experimentei pisar descalça no chão do meu quarto e meu pé ficou cheio de poeira, de fios de cabelo. Também me toquei que eu só entrava no meu quarto com sapatos, altos. Meus tênis e chinelos todos dentro de suas respectivas caixas. Os saltos, por sua vez, todos, sem exceção, na frente do armário aberto, jogados no chão.

Um por um, comecei a guardar. Sei lá porque lembrei de um livro, fui procurá-lo, acabei achando-o atrás de uma mesinha, que comecei a colocar em ordem. Jogando algumas coisas no lixo, aproveitei para limpá-lo. Peraí, isso pede uma música. Coloquei Bedime Stories, da Madonna, que eu não ouvia há anos. Pega a vasoura, um paninho, Veja. Comecei a achar coisas que há muito tempo eu estava procurando, e eu mesmo estava tentando esconder de mim mesma. A sensação de achá-las novamente era ótima.

Quando me dei conta, eram duas e meia da manhã e meu quarto estava um brinco.
Isso merecia um post. Liguei o Flávio e me pus a escrever. Lembrando de tudo o que eu achei, tudo o que eu joguei fora, todas as coisas que agora, estão em seus devidos lugares.

E eu percebi que não estava falando do meu quarto.
Eu estava falando do meu coração.

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