06 February 2003

death for fun


Medo da morte é coisa do passado. E eu não estou falando de esportes radicais. Brincar com a beleza e a possibilidade de morrer está em voga nos nossos queridos países desenvolvidos. Eu já imaginava que essa galera era tudo maluca mas ultimamente, eles têm me surpreendido. Mango Chutney foi buscar nas profundezas da Internet o limite da curiosidade mórbida humana, de deixar qualquer Mary Shelley constrangida.

bare back sex

Se Cazuza e Freddy Mercury estivessem vivos, com certeza seriam adeptos a essa onda européia. E mais: seriam convidados de honra.
Talvez seja porque estamos próximos da cura, talvez seja porque a AIDS hoje em dia é mais vista como uma diabete do que como um Ebola, ou seja, uma doença que não tem cura mas pode ser tranqüilamente controlada. O fato é que a AIDS não mata mais ninguém (ou pelo menos não a curto prazo). O terror que a AIDS provocou na geração dos anos 80 não existe mais. Uma das provas disso é a prática de Bare Back Sex. Se você nunca ouviu falar, já está bem atrasado. Quando eu entrei na Internet para procurar sites sobre esse assunto, já tinha tudo quanto é tipo de página (a favor e contra) dessa prática.

Vamos supor que vc está em uma festa, na Alemanha. Uma festa que só de vc ter chegado sabe que vai ser a festa da sua vida. Quase quatrocentas pessoas, todas sem medo de novas experiências. Um revival hippie, condom is not allowed. Lá pelas tantas, a galera já louca (sabe-se lá Deus de quê, mas isso não é importante), todo mundo começa a beijar todo mundo. Vc nunca transou com tanta facilidade na sua vida. Todas as alemãs da festa querem saber como vc faz, até seus novos amiguinhos já te olham com um jeito diferente. Vc entra no clima. No dia seguinte, vc acorda e simplesmente não acredita no que aconteceu ontem. A Europa é mesmo o lugar pra se divertir de verdade. Liga para os seus amigos para comentar de suas peripécias e acaba descobrindo que entre as pessoas que estavam trepando na festa (e todos estavam) havia cinco soro positivo, que ninguém sabia quem era. O máximo da festa e de trepar com todo mundo era o risco de poder pegar AIDS ou não.

Hoje em dia não há um cidadão europeu que não saiba sobre isso. Algo merecedor de uma seção da Vogue: Everybody’s Talking About. Existem adeptos no continente inteiro, festas enormes, sabe-se lá com quantos contaminados e quantas vítimas. O vírus é a atração principal da balada. Onde ele estará, como ele se parece, será que ele tem cara de soro positivo mesmo? Será que é essa menina que está do seu lado? Será que é o dono da festa? Pode ser vc, e vc nem se deu conta ainda. O HIV anda como um fantasma, assombrando algumas cabeças e enfeitiçando outras.
Juro, essa idéia de jirico só poderia ter vindo de uma terra onde não se tem o costume de tomar banho.
Eu sou pobre mas sou limpinha.

Pra saber mais detalhes, entre no site oficial: www. (pasme)bareback.com


Sacudindo o esqueleto.

Say it now, and say it loud. I’m anorexic and I’m proud. Esse é um dos gritinhos de guerra espalhados pelas muitas páginas na Internet em prol da doença. Mas este sem dúvida é o mais contraditório de todos os outros cantados por estas cheerleaders moribundas. A anorexia é uma doença cujo primeiro sintoma é falta de amor próprio. Como pode uma anoréxica estar orgulhosa de si mesma? Absurdo ou não, a anorexia, uma doença que atinge e mata muitas mulheres, além de bem-vista, é estimulada por algumas centenas de menininhas.

O mais interessante deles (e possivelmente o mais completo) é o Ana’s Beauty. (www.anorexicbeauty.com). Tudo sobre a doença, e como fazer para se tornar ou manter-se anoréxica. Dicas de como não comer, palavras e mais palavras de incentivo para não sucumbir ao monstro mais apavorante do clã, conhecido como geladeira. Dicas de como esconder a doença dos pais e ainda trazer mais adeptas ao movimento moribundo. Se depois disso tudo vc ainda não se convencer da beleza de ana, elas ainda dispõem de uma galeria de fotos de menininhas esqueléticas (artísticas e caseiras), com direito a hall da fama. Entre as preferidas estão Kate Moss (alguma novidade?), Twiggy, Shalom Harlow e outras modelos em seus piores ângulos, acentuando sempre os ossos da costela ou salientando o ossão da bacia. Um espetáculo de deixar qualquer cachorro com água na boca. Até a atriz protagonista do seriado Ally McBeal, aparece em duas ou três fotos do site. Eu bem que desconfiava. Eu procurei, mas os anoréxicos e bulímicos mais famosos da turminha como Daniel Johns (vocalista do Silverchair), Trish Goff ou Lady Di não estão na galeria. Talvez seja porque estes três citados não acharam nada engraçado nem bonito contrair a doença.

O conteúdo do site chega a ser tão explícito que dá medo de navegar por ele. Vai que dá uma zica tipo Peter Townsend, e eu acabo presa por pura curiosidade mórbida? Seja como for, a curiosidade foi longe, mas meu estômago não chegou a tanto. Havia muitos links para outros sites “pro-ana” como eles chamam, mas eu já estava ficando enjoada de ver tantas fotos de meninas mortas-vivas. Se a intenção delas em mostrar essas imagens horríveis era me fazer perder o apetite, confesso que elas conseguiram. Mas assim que sair do computador e vou correndo para o rodízio mais próximo comer um frangão assado. Desossado, por favor.

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