14 October 2005

mONGa.

É. Papo de ONG sim.
Acho um saco.
Acho também um saco receber ligação de gente pedindo dinheiro.
Por um montento, pense: alguém liga choramingando um português no gerúndio sem plural e pede pelo amor de Deus o seu dinheiro. É para as criancinhas. É para os doentes. É para os bichinhos. Manda o número da conta ou marca um horário para ir até o local e retirar a doação. Mais fácil, impossível.

Juro que este domingo eu vou fazer isso:
1 - Selecionar aleatoriamente na lista telefônica nomes que tem carona de gente rica ou boba.
2 - Ligar e dizer que foi indicação ou seleção em nossos cadastros.
3 - Logo de cara, dizer somente o primeiro nome pra mostrar intimidade ou perguntar pelo responsável do estabelecimento ou do imóvel. Não dizer sobre o que é, a não ser que se pergunte.
4 - Já ir apresentando, senhora, a Associação dos Deficientes Gerundianos para estar podendo, senhora, estar comprando remédios, e para isto, senhora, estamos contando com a sua colaboração.
5 - Falar que a doação é qualquer quantia. Não comentar sobre outros tipos de doação, como alimentos ou roupas. Caso essa bola estiver sendo levantada, você pode estar podendo estar enviando para este endereço, senhora: (e invente qualquer um.)
6 - Passar o número da sua conta. E pedir mais uma vez, senhora, que lembre-se que esta associação é sem fins lucrativos, tendo como objetivo apenas, senhora, a saúde da nossa língua portuguesa.
7 - Agradecer muito pela doação, ter a cara de pau de perguntar se a senhora quer indicar outra pessoa pra cair no conto de uma ONG que não existe.

Manga azeda essa.
Que maldade a minha desconfiar de pessoas que realmente só querem ajudar.
Eu também acho.
Mas que porcaria que vc, querida ONG, tem na cabeça pra sair ligando pras pessoas pedindo dinheiro, assim, do nada? Pra quem? Pra Viva Vida, senhora Maria, é uma ONG que...
Nem deixei a bicha terminar. Eu não conheço e não vou doar dinheiro assim. E a Viva Vida ficou muda no telefone quando eu pedi o endereço deles. O site. O telefone. Mais informações. Experimentem ligar para o Hospital que andou aquele e-mail do menino que precisava se sangue A Negativo. Eu liguei. Eu tenho o mesmo tipo sangüíneo. O menino estava bem e já havia saído do hospital fazia 8 meses (eu liguei em 2003). Recentemente recebi o mesmo e-mail outra vez. E a menina de São Bernardo que está desaparecida desde quando a internet chegou no ABC?

Como saber se esses casos são reais? Se essas ONGs não são de verdade? Chata, chata você, fofinha que manda corrente solidária, que liga pra minha casa em pleno feriado pedindo dinheiro pruma ONG que eu nunca ouvi falar. Porque você é responsável, senhora fofinha, por toda esta rejeição ao voluntariado, a iniciativa filantrópica das pessoas. Ninguém mais acredita. E se acredita uma vez, depois da décima ligação repetida, desliga na cara. "Já ajudei este ano."

Eu faço dois apelos. Primeiro ao terceiro setor.
Não torrem o nosso saco.
Ir logo ligando, pedindo dinheiro porque sim, se não é estúpido, é cruel.
Crianças, Aids, Câncer, assuntos que apontam diretinho no nosso coração e despertam medo, solidariedade e vergonha. Medo de um dia estarmos precisando da ajuda de uma ONG, solidariedade por estarmos em contato com isso todos os dias. E vergonha. Vergonha de não fazer nossa parte. Vergonha de ser um daqueles que viram o rosto para o que está acontecendo no mundo. O coração é nossa curva fatal, sempre foi. E vai ter sempre neguinho a espera, aproveitando a onda Criança Esperança, o Natal, a porra que for, pra maltratar o resto de humanidade que ano, após ano, ninguém desiste de tentar reviver.
E você, ONG manézona, arruma ainda mais um motivo, o pior de todos, pra nos fazer odiá-la: o telemarketing.
E o segundo apelo. Pro resto das pessoas.
Pros que acham que mandando corrente tão fazendo um bem ENORME a sociedade.
É muito fácil fazer doação pra ONG, eu tenho estado com pessoas que fazem isso o tempo todo. Seja uma festa, balada cuja metade do dinheiro é doado. Em bazar, organizado na mesma lógica. Um dia especial de vendas na sua loja. Não precisa fazer mutirão em bairro, organizar trote solidário chato, fazer salgadinho pra fora. Eu também não gosto de trabalho voluntário. Mas eu, além de ser humana, eu sou Caótica Apostólica Romântica, eu quero mais é espalhar amor pelo mundo. Mas pra isso, desculpe, não vou ficar sem comer, nem sem dormir, nem rezando, nem ficando pelada na cama dia após dia com meu macho do lado, MUITO MENOS assistir a Globo, que eu não aguento mais ouvir a cornetinha do Michael Sullivan.

Eu vou postar no mango, claro.

3 comments:

Fernanda Lima said...

AEEEEEEEEEEEEEEEEEEE
GEGÉ!! GEGÉ!! GEGÉ!! GEGÉ!! GEGÉ!! GEGÉ!! GEGÉ!! GEGÉ!! GEGÉ!! GEGÉ!!

Anonymous said...

qual é a sua sugestão?

Loo said...

"Caótica Apostólica Romântica, eu quero mais é espalhar amor pelo mundo."

posso copiar pra mim?