05 May 2009

A aula suja e pesada.

Em qualquer classe de idiomas sempre tem a aula do palavrão. No Francês ela foi mais curta e tímida, não se explicou explicitamente o que significava cada coisa, somos um bando de adultos, tudo se subentende. Chato. Você se sente mal se ri demais.

Mas no Espanhol foi diferente. A classe cheia de mulher, de Budapeste a São Bernardo do Campo. O professor fechou a porta da sala, desenhou duas colunas no quadro e categorizou: homem e mulher. A começar pelas básicas, homem, penis, mulher, vagina, na tentativa de evitar a esculhambação geral, afinal ninguém sabe entre alemães e indianos quem vai se matar ao ouvir "buceta". Seja na lìngua que for.

Não adianta, obviamente. Todo mundo pergunta tudo e fala tudo. Porque um palavrão em outra língua não significa nada pra você. É só uma palavra, não existe ainda uma associação direta. Buceta, por exemplo. Eu não falo. Morro de vergonha e acho desnecessário. É de uma mulher que estamos falando, já basta umas abdicarem o próprio nome a uma fruta, deixemos pelo menos o órgão com seu devido respeito.

Mas coño (em castelhano) eu falo direto. Claro, também por influência deles, já que de cada 5 palavras, 3 são coño, 1 é mierda e 1 é joder.

O fato é que quem mais se diverte nessa aula é o professor, obviamente. Imagine um alemão e um chinês tentando falar "polla" direito. E ainda fica treinando em voz baixa, "polla, polla, po-lla..." Coño é fácil. Cojones, cabrón, pelotas são menos populares porque todo mundo já sabe distinguir essas palavras num filme em castelhano.

Gilipollas é dificílimo. Todo mundo acaba esquecendo porque ninguém acaba sabendo falar. E é uma das que mais se devería usar porque gilipollas substitui babaca, panaca, idiota, imbecil, tonto, filho-da-puta, sacana, sem-vergonha, e por aí vai. Claro que existem os correspondentes a esses em espanhol, mas gilipollas é de identificação imediata.

Já tentei perguntar o que é "gili", já que sabemos o que é pollas. Gili é uma ação, seguramente, mas ninguém soube me explicar qual e eu não confio nas explicações da internet.

Uma hora e meia falando de palavrão. E como diz "caralho"? E além de polla, que mais tem? Aí o professor faz sub-categorias, de sinônimos chulos de cada membro.

Até onde vai meu conhecimento, os espanhóis tem mais variedades de nomes pro saco (o escrotal). Nós temos a variedade maior en denominar o membro masculino e suas habilidades. Apesar de existir, por exemplo, a palavra "carajo" em espanhol, não significa o mesmo que o nosso caralho. Na verdade segundo muitos não significa nada.

E chegou a minha vez de perguntar. Porque eu queria saber como era porra em espanhol. Não esperma, eu queria saber o correspondente em peso de porra. Porque porra em espanhol é um doce. É um churro recheado. Certamente nossa porra deve ter vindo de algum galego safado que fez a associação que não devia. Porra na Espanha também significa aposta.

O professor não entendeu. Ele respondeu, "esperma". Eu disse, não, um correspondente vulgar, como polla para penis. Ele ficou assombradíssimo. A classe inteira se calou. Por que a brasileira quer saber especificamente isso? Por que eu fui abrir minha boca?? Ele não arriscou nada. Ia sair algo profano que ia condenar o prédio inteiro ao inferno se ele pronunciasse palavra. Pouco a pouco o assunto foi disspando, 5 minutos depois a aula acabou.

Obviamente que persisti na informação. Alguns conhecidos me arriscaram dizer "leche" ou mais espeficico "leche de pantera". Outro disse simplesmente "yogur" (iogurte), mas eu acho, pela reação geral, que aquele apodo era mais pessoal. Não valeu.

A verdade é que não existe um correspondente pra porra. Em italiano deve ter. Se não tem eles arrumam um em 5 minutos. Em francês pelo visto não. Em inglês seria "cum" mas é tonto, é só mais uma palavra que eles inventam de um verbo caso não tenha o substantivo.

Todo país tem seu vocabulário chulo (normalmente ligado à religião correspondente) e toda aula de idiomas sempre tem a aula de palavrão. O que é mportantíssima, eu acho. É a linguagem maldita, instintiva, gritante. É o diabo por trás da nossa história, que sai de dentro da gente em doses homeopáticas, letra por letra, que junta e vira um monstro.

Cada país com seus monstros.
E pra cada monstro, um palavrão.


P.S.: Já que estamos, "chulo" em castelhano da Espanha quer dizer bacana. Cool. Nice. Show. Mas dos falsos cognatos eu falo depois.

1 comment:

Rodrigo said...

Chulo!
Depois de quase dois anos sem visitá-lo, volto a ler seu blog! espero ser mais frequente (novamente).