03 May 2009

sobre o filme "Ensaio Sobre a Cegueira".




- Muito interessante o jeito que o Fernando Meirelles filmou em São Paulo. Na maioria das vezes parecia uma cidade totalmente fictícea – o que era, de fato, a idéia do diretor – mas outras vezes era legal reconhecer a cidade em uns ângulos super bonitos, embora imersos em um contexto calamitoso. Foi o cenário ideal para uma história como essa.

- Existe um claro paralelo entre Ensaio Sobre a Cegueira e os zumbis do George Romero. Após um incidente epidêmico, a raça humana é convertida em uma horda de monstros lentos, desorientados e famintos. Mas ao contrario dos zumbis, nossa desumanidade não se deve à sobrevivência: se deve ao medo.

- Muitas vezes parecia que estávamos vendo “Extermínio” ou algo parecido. Mas todo aquele branco e o inconfundível toque brasileiro deram ao filme uma atmosfera totalmente diferente – e mais elegante.

- Julianne Moore está simplesmente única. E parecia que tinha feito filme brasileiro toda a vida. Ela estava completamente imersa na história, como também dentro do cinza caótico futurista de São Paulo. Não estava igual Mark Ruffalo. Não conseguia esquecer que ele era aquele tira de bigode que uma vez comeu a Meg Ryan.

- Alice Braga está linda e o sotaque dela é tão melhor que o da tia, ainda que essa tenha de Estados Unidos o que a sobrinha tem de vida.

- Gael García podia ter feito melhor. Não me convenceu como vilão. Eu acho que tería posto outra pessoa, alguém tipo...caralho, por que eu sempre penso no Vicente Cassel pra fazer papel de vilão nojentão??

- Foi muito delicada (pra não dizer nula) a relação do roteiro com a verdadeira - e brilhante - metáfora da história: a crítica à fé, e por conseguinte, à toda e qualquer instituição religiosa. Limitando-me a dizer que o Saramago é agnóstico de pai e mãe (e esta informação basta), é claro que a história na realidade fala que a fé cega é pleonasmo. A fé só existe por causa da cegueira, não precisa existir se existe o conhecimento, ou a visão. Mas a humanidade não caminha pelos próprios pés, e foi preciso muito tempo pra gente aprender a se virar, mesmo cego, que remédio. Mas durante muitos anos vivemos e viveremos precisando acreditar, mesmo sem ver, que tem alguém nos conduzindo ao lugar certo e protegendo nossas vidas.

Me pergunto se o diretor tirou a questão religiosa por causa so Brasil ou por causa dos Estados Unidos. De qualquer jeito foi uma pena. O filme teria sido muito mais brilhante e muito menos "28 Days Later- Blind Version".

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