ultralounge
Eu odeio o arco-íris.
Isso não é justo. Há um lugar, muito além do firmamento, muito além do arco-íris, muito além da Vila Olímpia, onde homens e mulheres vão procurar, respectivamente, homens e mulheres.
E alguns vão por causa da música, a melhor seleção tecnhopop e tech-house
anos 80 de São Paulo.
O lugar é lindo. A bebida é cara.
Impressionante como em São Paulo, vc tem opção até para o tipo de balada Gay que vc quer ir. Se vc quer balada boy gay,
Level. "BBB" (Balada Bicha Bagaceira), Autorama. Balada do babado forte,
A Lôca, SoGo, fora as que eu não conheço. Balada Cara e Cult, Ultralounge. Restaurante,
Ritz. Happy hour, é só escolher qualquer barzinho da Consolação. Isso sem falar do público feminino.
Não basta ser gay. Tem que ter
gheto.
O mais legal dessa história é que hoje em dia, pelo menos aqui, Gay não é mais uma "tribo", uma turminha do submundo, um gênero do guarda-roupa. "Ah, essa aqui é patricinha. Essa aqui é lésbica." Não, eu mesma já vi muitos boyzinhos gays. Aliás, é o que mais tem.
O mesmo vale para as meninas. Não se iluda com bolsinhas da Louis Vuitton. Mesmo pq ontem a tinha uma drag queen usando uma, e bem cara.
O problema dessa história é que as opções da ala feminina hetero está encurtando. Eu, que adoro, simplesmente adoro homens que se vestem bem, descoladinhos ou chiquérrimos, não posso mais olhar pra eles sem ser rejeitada. Droga. Todos os homens mais bem-vestidos dessa cidade são gays!! Sem contar que eles têm o melhor cabelereiro do mundo. E o melhor estilista. Eles mesmos.
Ontem o que não faltou foi homem bonito. No bar, na pista, no banheiro, homens à altura de um anúncio da Ellus.
Todos, mas
todos abrindo o leque, e sacudindo incansavelmente os ombrinhos ao som do Erasure ("
stop!").
Só que tinha um...ele estava todo de preto. Calça preta, uma malha preta de gola alta. E só pra acabar comigo e ganhar de 10 a 0 em estilo, este menino ornava tudo com um colar indígena no pescoço. Traços fortes. Rosto de homem, nariz de homem, boca de homem, bunda de homem. Rebolado de mulher.
Ah....não é possível.
Até tentei olhar, não dava pra resistir, aquele era um desses caras que é tudo o que vc sempre pediu a Deus, mas vc esqueceu de dizer que ele tinha que ser HETERO. Ele, nada. Quando eu achava que ele estava finalmente olhando na minha direção, olho pra frente e um cara olha direto de volta, nos olhos.
Aí, vejam vcs como não mais existem rótulos, havia um moço dançando na pista, como dançam todos eles (ar
blasé, um-pra-lá, um-pra-cá, com a leve quebradinha.). Estava sem camisa e exibia um daqueles corpos perfeitos, esculpidos por Apolo, igualzinho ao modelo da capa da G Magazine. Já pensei, além de não ser meu tipo (detesto lasanhas), o cara é altamente gay. No melhor estilo So-Go boy (valeu o trocadilho.)
E não é que o cara começa a me olhar e me chama pra dançar?
Havia uma grande interrogação na minha cabeça quando ele me beijou, e falou que sempre ia lá, mas era hetero. E era mesmo. Não desmunhecou, não falou fino, não abriu o leque, nem tentou disfarçar com voz grossa e mão-boba. Era
personal trainer e muito seguro de si. Depois eu vi ele ficando com uma loira, loirona, que parecia ter acabado de sair da Anzu. E sem camisa, no ultralounge. E achava normal eu desconfiar (ah, bom!), e nem ficava constrangido. Hetero.
Não vi mais o bonitão(ona).
Mas depois do fortão, fiquei me perguntando se eu não me precipitei com o outro também. O cara que eu fiquei tinha muito mais jeitão de gay do que ele. E o que é que tem gostar de tech-house, afinal? Não descobri esses dias que existe até nazi-punk viado? Ask
her.
Mas mesmo saindo com 2X0 da balada (mais um copinho lindo, pra completar a coleção), saí com uma invejinha dos meninos.
A impressão que ficou foi que o que sobrou desse lado, foram os bêbados, os chatos, os cafajestes, os mulherengos, os bermudão-e-havaianas, os incapazes, os punheteiros, os chokitos, os insensíveis, os "futebol-de-domingo", os "eu-não-entendo-as-mulheres".
Os lindos, sensíveis e bem-vestidos estão guardados em algum pote de ouro...no final do arco-íris.