27 May 2002

Muttley, faça alguma coisa!


É, Mutley faça alguma coisa de útil, porque eu vou continuar aqui deitada nesse sofá, debaixo do edredon, tomando café, assistindo desenho no SBT a manhã inteira.
Seu molenga.

Corrida maluca passa todo dia no SBT às 11:00 mais ou menos.





falando em desenho, eu ando assistindo muito. Adoro. Eu sempre falo que a melhor coisa do mundo é acordar tarde no sábado, tomar aquele café que dura hoooras e assistir desenho. Mas tem que ser do SBT, porque o Cartoon Network a essa hora, só passa desenhos de lavagem cerebral de crianças, no melhor estilo Barney. Melhor é assistir aquele que você já viu mil vezes (quando o Pica-Pau vai conhecer as Niagara Falls e joga o guarda nas quedas dentro de um barril e aqueles caras de capa amarela gritam: EEEEEEEEEHH!!!!!, ou então aquele do Cavalo de Fogo quando a Sara, por acidente, liberta os Goblins de uma caverna ou então quando o Tom e o Jerry arapalham um concerto de Carmen.) e se diverte toda vez que assiste.
O engraçado é que de tanto ver eu acabo reparando em pequenos detalhes, do tipo, vc já perceber quantas vezes os personagens aparecem fumando nos capítulos? Em desenhos do Pica-Pau dão charutos como prêmios em parques ou feiras. O gato Tom vive fumando. Em um filme antigo da Disney (passando lá na década de 30, antigo mesmo), aparece um cawboy bolando um cigarro e tomando cachaça. Fora as eternas "brincadeiras" com revólveres, espingardas, metralahdoras de guerra, bombas e dinamite, completamente sem medida. Hoje, se alguém produz um desenho onde um personagem ingere bebidas alcoólicas ou fuma, é censurado na hora. Ou pelo menos criticado. Coitado do Teletubbie roxo que nem bolsinha ele pode usar. Você já contou quantas vezes o Pernalonga beija o Patolino na boca? E ninguém fica gritando "mensagem subliminar!" por aí.
Porém, não é porque antigamente haviam desenhos subversivos que não havia uma certa preocupação com a moral. Havia uma moral, mas era uma moral diferente (eu posso falar isso?ah, posso né?). Ora, vc nunca reparou que no primeiro filme da série Poltergeist, os pais de Carol Anne (típica família americana, tinham até aquele furgão "Chevy Chase" cujas laterais imitavam madeira) aparecem fumando maconha no começo do filme?
A moral mudou. Agora a gente pode fazer sexo na frente das crianças, mas fumar maconha nem pensar.
Mas eu estava falando dos desenhos. As traduções não permitiam palavras muito feias, antes. Hoje, acho que se algum personagem fala "Shit", os dubladores traduzem: "merda!", com a maior tranquilidade. Antes, quando aparecia (e não era raro) alguém com cara de pirulito escrito "sucker", o dublador traduzia "bobalhão". Já apaceceu até "asshole", e dublaram como "você foi enganado".
O bom é que a dublagem criou uma linguagem exclusiva, de palavrões que só existem nos desenhos. Alguém mais além do Pica-Pau fala "seu vigarista de meia-tigela"? E "paspalhão"? Fora os termos que são traduzidos ao pé-da-letra. Como no...ih, esqueci, agora deu branco. É que eu nem ia escrever tanto assim sobre meu sábado à tarde, mas veja você quanta cultura inútil se pode cultivar durante sessões diárias de desenhos clássicos.
Aí eu fico imaginando, vendo esses cartoons de novo, o quanto daquelas imagens não me influenciaram sem eu perceber? Muita do conteúdo dos desenhos eram totalmente adultos. Nunca entendia porque o Tom ficava vermelho e elétrico quando a gata da vizinha aparecia. E a insistência absurda do Frajola de comer o Piu-Piu. E o coyote, o outro passarinho. E porque o Gargamel só conseguia ver os smurfs depois de tomar uma "poção" feita de cogumelos e outras ervas.
Assistir desenhos não é coisa de criança. At all.
That's all, folks.

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